As tuas formas parecem casa,
E cada janela tua
Emoldura o amor.
Nas ruas cotidianas,
As pedras levam ao caminho conhecido,
Mas sempre novo, assim como tu.
Das tuas curvas
Sopra a brisa leve,
E todo fim de tarde
É mágico e iluminado.
O teu sabor é surpreendentemente familiar,
E parece premiado
Mas, na verdade,
É o carinho que faz do teu tempero carro-chefe.
Tuas veias pulsam entre as estradas perigosas,
Mas tens um colo tão protetor.
O teu povo, de coração gigante,
Reflete a imensidão do teu território.
A colonização marcou os teus traços,
Mas a liberdade, ainda que tardia,
Te fez viva e autêntica. Inesquecível.
Tu és resistência, Minas,
Mas também és residência. Lar.
Por mais gerais que sejas, és única. Especial.
Deus me fez tua por vocação,
E até o meu jeito de falar te carrega comigo.
Onde quer que eu vá,
O teu triângulo vermelho
Marca invisível a minha pele.
Tu és destino e saudade,
Terra amada e origem.
És famosa e mais bela ainda na desatenção.
Tu guardas cidades históricas,
Mas és, sobretudo, cenário do meu enredo.
A energia é interrompida
E não há planos que vigoram
Quando a tomada na parede
É incapaz de gerar força
Não há roupa suja o suficiente
Não há corpo suado o bastante
Nenhum plano é inadiável
Quando a solução é esperar
Ainda que haja urgência
O que mais pode ser feito?
É analogia perfeita
Do descontrole da própria vida
As velas diminuem de tamanho
Enquanto o tempo atrasa a pressa
O vento assume o comando
À medida em que a chuva escorrega
Quando o apagão se acende
A vida se revela
O passado mostra o presente do presente
E toda a vida obrigada a pausa.
Eu não posso dizer que digo pouco
Pois te digo todos os dias.
Ainda assim, toda vez é nada
Perto do tantão que sinto.
Amor meu, que delícia morar no seu abraço!
Que bom sonhar com o cuidado do seu esforço.
Que sorte me pertencer depois de te encontrar
E me perder continuamente.
Só você sabe o que sabe
E eu sei o que significa.
Se a gente entende, isso basta.
Ninguém mais entenderia mesmo...
Eu quero o resto desta vida com você
E também quero poder te querer na próxima.
Tomara que, de qualquer forma, a gente se esbarre
E que, se esbarrando, a gente se agarre.
Talvez eu não lave as louças no primeiro encontro,
Talvez o meu perfume não fique no seu carro.
Talvez o seu cabelo seja escasso e a sua inteligência comum,
Mas encontre um jeito de me reconhecer.
Como podem braços fortes
Capazes de levantar pesos absurdos
Capazes de levantar o meu próprio corpo
Carregarem tanto medo?
Eu jurava que, recebendo a atenção que merece,
Você saberia se olhar no espelho
Mas, quanto mais te vejo,
Mais vejo que você mesmo não se conhece
Enquanto enxergo graça, futuros lindos
E felicidades impensáveis,
Você só enxerga o que falta
Só se vê capaz de ter o que já possui
Eu queria os seus traços em um ser que seria nosso
Eu queria a sua vida ressignificando a minha
Eu queria você, professor,
E me queria sua aprendendo a ser aluna e a sair do controle
Ainda que o nosso amor seja só inspiração
Em algum momento eu o senti como verdade
Por mais que eu acredite que ainda persista algo no tempo
O único fato inescusável é que nos escusamos.
Eu esperava o contexto ideal, o silêncio confortável, a luz amarela abraçando o ambiente e a máquina de escrever para relembrar o tempo em que as pessoas se valorizavam.
Como todas as boas surpresas da vida, a força me veio no século XXI. Como uma luz insistente na fresta da porta quando se deseja dormir no escuro, ela foi folha que rasga quando a tecnologia possui camadas e camadas de redundância.
Eu até cogitaria que a força apareceria em uma manhã clara no parque mais charmoso da cidade… mas jamais imaginei que - mesmo pequena - os seus primeiros passos venceriam o cansaço de poucas horas de sono e a timidez de compartilhar a minha fraqueza no meio de pessoas tão firmes em relação à própria arte.
Eu me imaginava forte quando, finalmente, encontrasse forças. No fim descobri que, quanto mais firme me sentir, mais sensível estarei às palavras e as múltiplas interpretações que delas reverberam.
Naquela manhã fria, enquanto as pessoas se encantavam pela chance de conhecer alguém cuja obra admiravam, eu me encantei pela mente por trás dos livros e busquei, em suas palavras, o ponto de partida.
Escrever é se permitir registrar com fragilidade. É se despir de um ponto de vista ao aceitar que a verdadeira história será ramificada em tantas outras versões. A força, então, é só a coragem de sentir. Escrever, todavia, é o sentimento descrito, muitas vezes não compreendido, porém livre para ser solto no universo.
Já faz tanto tempo
Que me causa estranheza
Preciso pegar no jeito
Embora pensar me embale
Estar longe das palavras
É como negar a minha própria natureza
É passar os dias sem sorrir para o inevitável
Viver a vida sem registrar em texto
Parece-me comer sem sentir o sabor…
Saciar a fome, mas não me emocionar ao descobrir novos gostos
E, por mais que eu negue o dom,
Até eu mesma me reconheço
Mais ao me ler…
Posso guardar em fotografia
Mas só as frases me teletransportam
Posso até me despir de paixão repentina
Mas só uma carta me tornaria vulneravelmente entregue.
Se eu tivesse a certeza
De guardá-lo na mente
Eu pararia mais tempo
Para te observar
Por mais que a memória falhe
Ao desenhar os seus traços
Na minha pele fica a sua presença invisível
Ainda que imagine antes de dormir
E torça para viver ao sonhar
A realidade tem sido melhor
Que qualquer projeção
Se eu tivesse outras escolhas
Que, de certas, levassem ao sucesso
Eu pegaria um atalho
Só para te ver vencendo o esperado
O meu desastre me impede
De seguir na linha
Mas o teu equilíbrio
Não permite que eu caia
Mesmo que eu defina
O melhor caminho
Onde quer que você esteja
Lá estará a minha ruína e o meu triunfo.
O elemento que caracteriza a vida
Agora, imparável na distribuição do caos
Como sempre, a culpa ressoa em diversas esferas
Quando, na verdade, todo mundo contribuiu
Parece estranho seguir na normalidade
Quando há tanto sofrimento concentrado
Parece estranho ter luxos
Quando tanta gente não tem mais o básico
A tragédia tem nome e causa
E, embora as forças estejam unidas, ela também escancara o nosso fracasso enquanto povo
Sendo humano em momentos de escassez:
De consciência, de humanidade, de humildade e de ciência
Ainda insistimos em pagar para ver
É difícil sorrir quando lágrimas se confundem com o alagamento
É injusto olhar tudo de cima dos prédios gigantescos quando há lares submersos em águas sujas.