Afastando-se das luzes, branco é a ausência de cor e preto é a junção de todas elas. Assim como os pigmentos vão se alterando sempre que misturados, a nossa alma também tem nuances e seus respectivos extremos.
É importante aprender a distinguir quando os sentimentos clareiam o caminho, esvaziando-nos de qualquer tonalidade obscura e, logo, quando a confusão é tamanha a ponto de misturar tudo. É claro que, subordinados à condição humana, sentir demonstra vivacidade, mas saber medir as proporções transforma o existir em uma pintura equilibrada.
Da mesma maneira que procuramos compreender quadros (por mais abstratos que sejam), encontrar harmonia no look do dia (ainda que o guarda-roupa esteja uma bagunça) e buscar desesperadamente a compatibilidade da previsão do tempo com o nosso astral, é necessário saber qual paleta de cor nos cai bem!
De nada adianta lenços estampados em blusas neutras de gola alta se o dia está azul e quente lá fora. Já sabemos que o fluorescente cega e que tons pastéis enjoam e, talvez isso, utilizamos-os especificamente para o carnaval e o inverno, nesta ordem.
Só não entendo a razão de tantas definições. Por que permitimos que as nossas vidas sejam monocromáticas quando, verdadeiramente, há uma infinidade de matizes a serem descobertas e tingidas? Por mais que nos contentemos com a mesmice, subsiste, pois, a possibilidade de fazer um degradê, aceitando adequações mesmo na zona de conforto.
Para pessoas cujo medo de arriscar passa longe, o arco-íris é uma dádiva. Como não associar a alegria a cores vivas, sobretudo como um presente divino depois do cinza? De uma coisa estou certa: não quero nunca permanecer estagnada em artes homogêneas! Sabe aquelas cenas loucas de filme em que o pintor fecha os olhos e dança ao pincelar o quadro levemente? Meu ateliê é similar. O objetivo é transformar grandes obras em perspectivas sutis de enxergar o mundo. Por fim, similarmente a tudo o que reconhecemos como belo – dos contrastes aos encaixes – a nossa realidade também precisa ser colorida.