É necessário abrir os olhos… Não esses que reconhecem o que está à frente, tampouco aqueles que reparam superficialidades na esperança de encontrarem falhas alheias para que as próprias sejam amenizadas.

Falo dos olhos do amor: os únicos capazes de, verdadeiramente, enxergar. Incomoda-me como as visões têm andado limitadas. Numa sociedade em que a aparência ganha, diariamente, uma magnitude mais importante do que deveria, os nossos valores são deixados de lado e passamos a exaltar apenas coisas que não acrescentam. Diante disso, os olhares que deveriam ser ferramenta de identificação chegam, quase sempre, como uma súplica de auto afirmação.

Quando falo da necessidade de nos atentar, enfatizo, sobretudo, a necessidade de fazê-lo de frente para o espelho. A perdição de nós mesmos faz com que depositemos no outro a responsabilidade de trazer felicidade. Isso é triste.

Ao nos enxergar como somos, das bençãos aos lamentos, nada é capaz de atingir. Ser bem-resolvido remete um pouco o inalcançável, eu sei. Afinal, os nossos impasses só podem ser solucionados por meio de questionamentos que só surgem depois de reconhecidos e ninguém gosta de um sabe-tudo (ainda que seja sobre a nossa própria intimidade). Ademais, o que somos não ofende e o que não nos pertence sequer faz sentido. Deixem que o outro seja louco. Só não enlouqueça por perspectivas externas.

Estamos tão acostumados com a cegueira funcional que os danos se tornam cada vez mais permanentes. Por que raios harmonização facial é mais divulgado que uma espiritualidade trabalhada? Perdemos os padrões para atingi-los. E, ainda que não haja cirurgia ou qualquer outro método que nos dê a oportunidade de voltar ao passado e visualizar postura diferentes, temos a sorte de – a qualquer momento – poder usar os óculos de realidade real.

Depois, chega a hora de seguirmos rumo ao mirante a fim de encontrar um panorama holística de tudo aquilo que nos cerca. Finalmente, com o universo interior desbravado, estaremos prontos para restabelecer todos os nossos padrões de pessoas e lugares, deixando por perto só o que amplia a visão. De qualquer forma, aos usarmos lentes corretivas, estaremos preparados para enxergar as extensões de nós mesmos nos outros, sem a carência de precisar suprir qualquer expectativa. Abrir os olhos é um processo contínuo e cansativo, embora primordial.

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