Estar em paz pode ter diferentes significados. Da conexão com a natureza à sintonia consigo mesmo, também há quem diga que a plenitude se encontra no ter. 
Longe de mim fazer julgamentos e querer escolher a melhor forma de definir como cada um se realiza, mas é difícil falar de algo que, para o meu contexto, sempre pareceu intocável. Todos as sensações intensas que experimentei foram ativadas através das pessoas. Não consigo fugir disso, mesmo tentando.
Nada material, no mundo, trouxe a alegria de um abraço apertado, um cafuné gostoso, um beijo apaixonado, um elogio sincero ou um arrepio por ouvir algo inesperado. Gosto de estar sozinha, embora me sinta o meu coração abarrotado de gente querida. 
Eu sei que a paz pode ser relativa. No meu ponto de vista, todavia, ela é uma matemática: tudo aquilo que entrego, somado ao que recebo, mais as trocas enérgicas que acontecem neste processo. É claro que, muitas vezes, não é possível juntar todos os elementos para chegar ao resultado esperado. Na verdade, em alguns momentos a conclusão é impossível. Talvez, ela seja inexata, ainda que composta por equações.
Pode ser que a busca por encontrar a paz seja infinita e que tenhamos até nascido destinados a tocá-la, eventualmente, mas nunca possui-la. Nesse sentido, o correr dos dias acaba sendo um teste. Afinal, tudo o que é bom merece um pouco mais de tempo. Contudo, diante do desconforto, como ir ao encontro de algo que sabemos da existência, mas que enxergamos tão distante?
No cenário de insegurança, somos instigados, quase que por instinto, a despertar o nosso pior lado. Todavia, o que seria o auge longe de nossas incompletudes? É necessário entender que só se reconhece calmaria porque o caos é dominador. Ele está sempre aqui, ainda que seja pouco visitado. 
No fim, acabo reconhecendo que a minha jornada é repleta de penhascos. Ao observar, vocês saberiam que conheço o pico e o fundo do poço e pulo de um ponto ao outro em segundos. Ademais, a minha capacidade de reconstituição sempre foi perspicaz. Quem corre muito sofre mais impacto.
Além disso, a minha miopia me impede de enxergar o que está à frente, nunca o que está acima. Consigo deslumbrar, do baixo, a luz que assombra e ilumina, outrora. Sei, no fundinho, que também posso subir. Então, a resiliência tem sido o meu maior presente e, ao mesmo tempo, um dos fardos mais pesados que tive que carregar. Às vezes, eu só quero parar entre um salto e outro a fim de juntar o que os extremos afastam.
Estar em paz, logo, é me sentir pequena diante da grandeza de tudo o que existe e reafirmar a presença de Deus através das pequenas coisas. No topo ao fundo, eu sou abençoada. Diante dessa certeza, quero apenas o essencial e descubro que não preciso de tudo. Basta um sorriso arrancado ou fujão. Basta o bem sem precedentes e uma ajuda pontual para seguir procurando uma forma de crescer. Com o tempo, a lei do retorno se encarrega de colocar cada qual na altitude correta.
Daqui, a seiscentos metros do mar, do 21° de um lugar contraditório, sigo radiante com minha maluquez. Tem momentos em que sinto, mais presentes, os meus descontroles pontuais. Nada obstante, sei - perfeitamente - onde encontrar meu equilíbrio. Até lá, abraço as minhas transformações e compreendo que os deslizes fazem parte da escalada. O estrago acaba sendo inevitável... apesar de forçar a criação de novas perspectivas. Independente da posição em que me encontro, quando algo se apresenta, de maneira obrigatória ou espontânea, eu me sinto na obrigação de (escre)ver.

adaptado em 29/jul/2023

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *