Eu precisava escrever, mas não era qualquer coisa, não… muito menos alguma indireta por entrelinhas de uma paixão frustada.
Eu precisava falar sobre algo que não me deixa esquecer toda vez que me lembro. E, talvez, eternizar pela escrita coloque em risco a indiferença que tento, diariamente, exercitar.
No entanto, a minha forma de te manter afastado pode ser também a maneira pela qual você consolida a própria distância. Se o meu tempo é gasto pensando, estamos mais próximos que nunca.
Não tem como ignorar o que passa feroz e esbarra. Por outro lado, não dá para fazer morada na companhia de um nômade. Seria corajoso insistir no sucesso, talvez. Mas até que ponto investir no fracasso é sadio?
Pior quando a imperfeição se revela perfeita e se torna, aos pouquinhos, desejo escondido que, vez ou outra, invade. Com isso, o desejo de ir além segue permitindo que pare quando devia correr. E eu pauso, quase em câmera lenta, só para observar.
Você disse que sou um muro e concordo. Minha guarda protege o que tenho de melhor. Quase sempre, tem alguém enxerido querendo ultrapassar, mal ciente de que sequer prejudica a parede. Que pena de quem insiste e que injusto comigo não conseguir receber.
Você não merece a permissão concedida, tampouco conhecer o lado que parece sombrio. No fundo, sabemos (um de nós também sentiu) que divisões possuem data de validade. Pode demandar um exército, mas basta o brecha para desmoronar.
Enquanto isso, espero… paciente, de cima. Em cima do muro, de tudo – você sabe – o controle só muda quando eu me cansar.