Cada vez eu percebo
Que não é a foto que me revela
Não é o desenho que me demonstra
E nem a melodia que me move
São as palavras que me moldam
E viajam à minha volta
Cada letra que se junto à outra
E me ressignifica toda
Cada vez eu percebo
Que não é o álcool que me embala
Não é o grito que me ampara
Nem o toque que me amolece
São os trejeitos que me aprisionam
E me deixam fascinada
Cada movimento que se organiza
E me descobre no escuro
Cada vez eu percebo
Que não é a voz que me alerta
Não é a ordem que me aquieta
Nem a indireta que me atinge
São as declarações que me atiçam
E me deixam instigada
Cada certeza que se duvida
E me faz querer o errado
Cada vez eu percebo
Que não é o fim que me apavora
Não é o amanhã que me motiva
Nem o passado que me amarra
São as lembranças que me acordam
E me fazem querer mais
Cada desejo que se esconde
E me projeta no altar.