No banho pensei e senti que ouvi…
Era silêncio na sombra.
Um ângulo de 40º fingindo iluminar, sabe?
Nada pareceu preciso enquanto escorreu a seguir. Os sentidos queimaram e permaneceram atentos.
Reconheci que precisava das letras
Num instante tão rápido
E decidi fazer tudo na mente, na hora.
Estava em outro mundo (se você bem me entende).
Tem vezes que parece mais seguro subir um degrau.
Saí já sabendo que deixei algo lá.
Enxerguei embaçado depois de abrir…
Prometi a mim mesma que voltaria, outrora.
Receio que o que foi deveria ficar.
Ainda, não soube como voltar o que já fugiu.
Também não me esqueci daquilo que um dia pousou.
Não me lembro do que só corre,
Tampouco do que ficou no canto.
Pareceu que o resto estava sob os vidros.
Precisei respirar um segundo
E escorei na parede suada, tão frágil.
Ao fechar os olhos,
Senti o frescor puro me atravessando.
Pedi a Deus, ali mesmo, que intercedesse e revelasse,
mas acabei me deixando marchar rumo ao ralo.
Desisti, quase lá
Afinal, isso era apenas a rotina.
Não deu para nascer quando queria curar.
Foi uma terapia, em partes dançante.
Encontrei comigo entre cada piscar.
No meu medo, descendo, entreguei a bagagem daquele intervalo.
Quando terminei - exausta -
fui destinada a um lugar em específico.
Nada mais caberia o que eu podia entregar.
Naquele canto colado à varanda.
Do 21º, no início.
Pareceu que, então, os rituais se estabeleceram.
Já era hora de adentrar o comum.
A gratidão me invadiu enquanto ajeitava o abrigo.
Fiquei ali esperando para viajar.
Já é demais poder estar e, por isso, encontrar tanto…
Preciso lembrar ao questionar se existe.
O crime popular
Embriago ao volante
Kms acima pra não se atrasar
No couro do carro
O cabelo loiro
No banco de traz
Pra ninguém se alarmar
Dedos deslizantes no painel e em meu corpo
O tanque pedindo pra se alimentar
Aguentei relutante O tranco do vento Pedi para o tempo desacelerar
Parei no sinal No segundo infinito Vi você, majestoso, Na faixa a atravessar
O semáforo abriu me peguei distraído Você é o homem que fez suspirar
Na marcha passando
Tremendo, pedindo
É passar mais uma
Pra não engasgar
Só piso no freio se for impulso
Acelero constante pra aproveitar
O ritmo lento, corrido, profundo
Inconstante o bastante pra me atormentar
Eu penso parada,
em movimento ou dormindo
Preciso acordar pra não me acidentar
Os gritos, protestos Quase como um gemido As regras pensadas Para nos proteger
Nem sempre funcionam
Eu sei, admito
Prefiro descobrir pra depois confiar
As rodas girando,
Rotina, instinto
Os pneus muito cheios
Para não desviar
O radar sempre aponta
a chegada ao destino
O ritmo frenético a ultrapassar
Nas faixas contínuas
O compromisso firmado
Nos pontilhados a mente
A fantasiar
Viagem no tempo,
Rota do destino
Ferramenta divina
Para transportar
Companhia, sozinha
Em trajeto ou percalço
Obra-de-arte, objeto
Sempre dá para alcançar
O céu, tão tangível O túnel a seguir Sensação inundada É só se entregar... E seguir!
Não precisa ser cem Só precisa esforçar A beleza se esquiva com o tempo O interesse tem que instigar.
Enxergue alguém Que ninguém mais quer ver Leia as entrelinhas Deus também está lá
A sua deusa é a sua alma Ouça e reproduza Ofereça a sua calma Separe algo para dar
Desapegue o que esquece
Não precisa guardar
Não se agarre ao que prende
Do sapato ao ar
Deixe seu perfume
No carro, na parede, na sala
Avise o cheguei pra se resguardar
Guarde o que é seu em seu mundo A sua fé, por si só, É capaz de realizar
O simples é massa
E é só isso
Horizontes se abrem
Se você acreditar
Cuide de você e de todos Dentro tá o seu tesouro Não precisa mais buscar
A verdade se diz,
Não se esconde,
Nem mente
A promessa é si mesma
Se deixe levar
Tenha fé em seu Santo
em seu extinto
e em seu corpo
Se reserve ao seguro
E se exponha ao dançar
Viva amores medonhos Delícias fáceis de dominar Toque o proibido Sorria! É gostoso saber Quando arriscar
Fale o que sente
Não espere de menos
Só te merece quem pensa
Quem se recusa a falar
Descubra você
No escuro e às claras
Esteja contigo
e não permita faltar
Conheça o incerto
Desconfie do inferno
Mande sempre a real
Sem querer machucar
Arranque risos
E contamine
Viaje bastante
Sem precisar viajar
Revisite cada passo
Cada sonho, cada circo
Agradeça por tudo
ao deitar para encerrar.
Esteja em você quando for a hora
Abra as cortinas, o show e o andar
Seja intensa em tudo
E não se arrependa
Amanhã não existe
Só nos resta esperar
Tenha toques suaves
Palavras firmes
Braços acolhedores
e postura exemplar
Seja tudo o quer,
Mamãezinha ou senhora,
Viva da arte, do mundo,
de si mesma e do lar
Mude o chão em que vive
Busque a alma que sonha
Advogue pra tudo
Fique pra observar
Acima de tudo,
Esteja, contudo
Feliz e completa
Em cima do altar
Eu te espero do próximo
Voltei para avisar
Seu caminho é trilhado
Não esqueça de olhar.
original de 25/jul/19
Todas as vezes que eu olhar pro céu
E acreditar que as estrelas são sinais do além
Estarei, de algum lugar, desafiando o feitiço
Com a coragem de correr o risco
Abraçada em seu colo ao curvar
Num abraço meu peito fundiu
O destino voltar para mostrar
Minha fala sumiu por completo
O silêncio foi capaz de gritar
A imensidão do que não duvidou
Era "sim" antes 'deu' acreditar
Senti a invasão hostil
As palavras soaram injustas
Eu queria dizer, mas não pude
O caos não dá pra tocar
No silêncio capaz eu ouvi quase tudo
Na calmaria da noite
Eu estava a gritar
O acaso sorriu
O destino acenou
Fui daqui até lá num piscar
O coração, desesperado,
berrava calado
batendo suave me retornou
Seus braços, esboçados
Envolveram minha pele
Os seus olhos piscaram
E o mundo a pausar
Eu ficaria se pedisse, sabe?
Até hoje releio
Sem me conformar
Para sempre é pouco, meu bem
o inesquecível foi posto
Eu tava aqui pensando
Em permanecer lá
Na beira da água,
Com a lua no chão.
O movimento escorrido
A vontade de estar
Um amor nem vivido Imaturo, recente Saudade iminente Ensinando a amar
Um inverno é o bastante
Para quem nunca esqueceu
Tem frio todo ano
O arrepio ao pensar
Energia que foi Mas que vem e que fica Seus cabelos no rosto Ao sorrir e ao cantar
Nada foi desde então
Mas estive contigo
Isso sempre lembro
Onde eu queria estar
A vida é a mesma daquilo Nunca fui ela mais Voltei, resistente Nem sei quando foi Que deixei de esperar Me mudou para sempre Num filme na serra Do terceiro ao Vigésimo primeiro andar
Por mil anos, sua voz
Presente em minha mente
A rosa a da promessa
Cumprida e entregue
Para comprovar
original de 24/jul/19.
Estava assistindo às explicações de Nando Reis acerca do que escreveu E me incomodou, inconvenientemente, a constatação da ausência de registro de tudo aquilo que me marcou A justificativa mais adequada talvez seja porque não enxergo em meus textos uma beleza a ser exposta Tampouco um lembrete consultado por alguém que precisa de um sinal externo para agir
Tocou na ferida o argumento utilizado por ele de que,
embora tudo tenha um ponto de partida,
Nenhuma sentença é verdade absoluta
Já que, com o tempo, as interpretações se divergem e as histórias seguem rumos autônomos
A minha memória falha, por sua vez, entrega o motivo que faz este espaço tão especial Embora a minha vergonha faça com que eu apareça cada vez menos por aqui Eu preciso ler mais, escrever mais E quem sabe, um dia, alguém leia alguma coisa E dê às minhas palavras um rumo totalmente diverso do originário Não há elogio maior para um sonhador do que ser a tradução de um sentimento compartilhado
O jogo de letras, concordâncias e rimas (quase inexistentes) É a arte de mostrar o caminho para que alguém crie o próprio destino
Sempre repito que só faço questão de ser lembrada por aqueles que amo Mas seria bom fazer parte, através da alma que coloco em cada trecho, Da trajetória de alguém que recorre aos textos para socorrer (a si mesmo ou ao próximo) É similar ao que me salva do mundo em qualquer contexto que imaginar
Para cada amor que senti, vivi ou sonhei Um diálogo foi criado, esquecido e eternizado Apenas por momentos pontuais que reatam A infinitude do que me invadiu outrora
Peço desculpas pelo acompanhamento tão falho Da minha mente que corre uma maratona em um segundo Mas vocês me enxergariam de outra forma Se compartilhasse, em junções de sílaba, A imensidão que coube em 23 anos de experimentações e votos de confiança
Eu poderia ter acertado em tanta coisa
Errado em outras tantas pela adrenalina…
Não sei quando (nem porque)
E continua…
Eu era só os frontais separados
E a negação dos modismos que alienaram a geração
É natural que a discrição passe despercebido…
Chamar a atenção sempre me pareceu brega
Meu amor é pelo subentendido, pelo substrato
É saber que, atrás da gentileza,
Existe um carrasco sutil
Mas era de mais me importar de menos
Com o que o entorno reverenciava
Enquanto a multidão vivia em busca das constatações externas
Eu estava imersa no que as palavras podiam ensinar
Aprofundada nos aprendizados que só abstrair despertariam
Ciente de que muito do que escrevo se perderá com o tempo
Sem mesmo ter tido a oportunidade de se pendurar
Mas, quando o faço, é porque sinto eminente o que chamam de arte
Experimentá-la, tão proximamente, me recarrega
Eu gostaria de cantar se tivesse o dom Todavia me resta, simplesmente, a cadência das sílabas que até podem virar melodia, Visto que seguem uma sequência quase musical em minha mente, Mas que são sentimentos dispersos sem um ritmo constante
No fundo, tenho ciência de que existem poucos
Não há como ver a dimensão de cada letra
Com visões limitadas
O sentimento por trás de cada junção
É de outro mundo.
E, se um dia alguém descobrir este espaço Peço que tente imaginar, Ao me ler de dentro pra fora, Que a vida que vivi foi um livro Sem gênero definido, sem prefácio Com páginas corridas sem sentido O aglomerado obscuro de quem se entregou Em todos os lugares onde esteve
Da pessoa que vê beleza no trânsito das 18
Que sente serenidade diante da confusão
Dizem que o caos desorienta
No meu caso, saiba de uma coisa
Ele é o contrário: norteia.
Você foi sem o último beijo
Ou será que fui eu quem parti sem avisar?
Eu esperava os planos, o sonho
Mas nunca fui clara acerca das expectativas, eu sei
Como esperar uma certeza
Quando tudo o que teve de mim
Foram reticências e pensamentos proibidos?
Eu sabia que não devia, mas esperei um “fica”
Da última vez que te dispensei
E, embora, o sentimento tenha se forjado
De uma conexão que só rendeu prazer,
Foi intenso o suficiente pra que você percebesse
Que o olhar não era desejo, era paixão
Que esse fogo todo que incendiou A sala laranja, a parede branca e o assento solitário do banco de trás Apagou qualquer racionalidade Interposta entre a realidade que vivíamos
Eu esperava que me buscasse quando estava só
Seria injusta não falar que o fez
Mas o encontro, embora terminasse na exaustão, deveria se iniciar com o encanto
A vontade não era momentânea, mas constante… E nunca parava depois de eu me recusar a pedir pra parar O toque escorregadio entrelaçava o corpo Mas precisava que as mãos firmes entrelaçassem a alma
Você sabe que são suas as palavras que escrevo O segredo que guardo E os suspiros que arrepiam Talvez, realmente, eu nunca tenha precisado falar Mas, se percebeu, o que o silêncio fala quando a boca cala? Não consegui entender.
Respeito à distância que solicitei?
Covardia diante da grandeza do que sente?
Insegurança por conta do medo
Ou, de fato, indiferença à forma como me entreguei?
O que foi tudo o que aconteceu?
O início do que era pra ser
Uma prova do que podemos ter
Ou um até logo de outra vida que nem sabemos se existe?
Das certezas incertas
Sentenças injustas
Do medo do novo
Da exaustão do que é velho
Novas decisões repensadas o tempo todo
Caminho bifurcado
O mesmo destino independente da rota
Canto no ar, vento na pele
Novas sensações das mesmas origens
Fogo que refresca
Frieza que queima por dentro
Desapego tatuado na pele
Seu nome eternizado em meu peito
Toque firme que arrepia O passar leve dos dedos que fortalece Mordida nos lábios Desejo na boca Distância na prática E novas lembranças do que nem ocorreu
Realidades contrárias, onipresença Memória curta para tudo Detalhismo apenas para o que importa Novos déjà-vus de algo que nem aconteceu
A contradição da vida
A tradição de seguir
Mesmo quando algo, oposto,
Permanece similar, lado a lado
E fica.