O fim, embora odiado, hoje se fez necessário. A situação foi como uma daquelas coisas que, mesmo por impulso, carregam consigo o direito de mudar uma vida. Afinal, não há o que se pode fazer quando já não é mais possível ignorar. Não é porque é bom que não precisa acabar.
As preciosidades singelas foram tão infinitas. Talvez o brilho seja algo que se recupere com o tempo. Eu sabia que iria corroer, mas imaginei que fosse capaz de resistir. Nem achei que fosse, real, o momento e o peso que carreguei foi subestimado quando entregue.
Normalmente, a solidão se aconchega na razão que ocasionou a partida e chega a ser inconstante a maneira com a qual se combinam. Foi um desperdício do tempo dedicado ao futuro impossível e do sentimento – idealizado – já planejado e sentido.
A imagem de um destino sem amor, eliminando todos os requisitos do que imaginei ser uma vida, fez com que desistir se tornasse possível. Perdoar sempre foi mais fácil que deixar ir. É impossível sem e impensável pedir para ficar.
Foi o único momento em que a proximidade deu tanto quanto a distância. Pela primeira vez, não houve nada que pudesse ser feito ou dito. O silêncio foi tão conveniente quanto o sumiço e única coisa palpável foi permitir que fosse. No fim, tornei os percalços em oportunidades de transferir a responsabilidade de levar o que desconfiava não ser meu ou me deixasse sentir um pouco mais daquilo.
Depositar em você a minha vontade para que se tornasse sua. E você, covarde, apropriou-se e me mostrou – superior – o caminho. Os apertos que abriram feridas se eternizaram no corpo como cicatrizes. Virou convívio, prática habitual – esquecer que passou por aqui.
adaptado em 29/jul/2023
A vida segue nos trilhos das escolhas que fazemos ininterruptamente. A busca implacável pelo sentido de nossos atos é, de certa forma, implacável. Quem esquece vive com um carma persistente na mente. Quem tenta não se lembrar convive com aquele assombro infinito do "e se".
É inviável que as falhas continuem sendo irrelevantes. As coisas que fazemos, excepcionalmente com o coração, sejam elas involuntárias boas ou ruins, deixam um marco imenso nas horas que demoram uma eternidade para passar.
A saudade é o estopim de qualquer questão existente. A vontade de estar perto já é maior que toda indecisão que, antes, pesava descontroladamente. Então, descobrimos que a nossa maior fraqueza está implícita naquilo que nos torna mais fortes.
Tudo o que antes era certo passa a ser a maior incógnita de nossas vidas. Sabemos e queremos tudo aquilo que o destino nos havia reservado, porém entregamos as cartas a fim de deixar que ele se encarregue disso, afastando-nos de qualquer responsabilidade em relação ao resultado. Tampouco, colocamos nossas visões à fogo para que tudo ocupe seu devido lugar.
O princípio de qualquer existência sentimental está dentro daquilo que mais julgamos desnecessário: a razão. Sem ela, seríamos reféns de nossos impulsos e sensíveis a qualquer modificação externa. Por mais que, às vezes, façamos as coisas sem pensar, a veracidade das consequências se mostra na linha tênue do desconforto: contradições de atos, de sentidos e palavras. Contraditoriamente, tudo ao avesso parece mais encantador. O mistério instiga mais que um terreno seguro.
Cara, será que não dá
Só para viver
Sem ter que saber
O resultado de tudo?
Não dá para entender
Que errar significa ter tentado
E que nada pode ser mais forte
Do que o que foi bom?
Do apoio amigo
Ao beijo apaixonado
Das tardes na esquina
Demorando ir
Às madrugadas sobre duas rodas
Na hora de voltar
Não dá para medir
E perceber que o amor
Vale mais que o orgulho?
Quando você parte,
A falta fica
E povoa a minha mente
Em cada madrugada
Se você recebe uma mensagem É porque eu já escrevi E exclui várias outras
Quando você volta,
A gente retoma o ponto anterior
E é como se nunca tivesse mudado
Por que não dá para focar
Na proporção exata
Do que sentimos
Ao invés de seguir
Nos anos que faltam?
adaptada em setembro/2023
A melhor parte de qualquer relação continua sendo a sinceridade ambígua. Deixar que a dúvida paire sobre o que sentimos é, concretamente, sinônimo de indiferença e desprezo. Talvez todos nós, ainda que involuntariamente, em algum momento, estaremos sujeitos ao abandono. O preparo para tal é ignorado até que deixe de ser uma opção e se torne o único caminho viável. E, mesmo quando achamos que nada nos atingirá, somos surpreendidos fragilidade que nem conhecíamos.
A realidade é feroz: ninguém nunca está preparado para se ver sendo deixado por alguém. Embora acreditemos que nunca somos bons o suficiente e o complexo de inferioridade constitua a nossa forma de ver a vida, acabamos alimentando a ideia de que talvez sejamos a escolha final.
Quando assim não é, vemos-nos, mais uma vez no estado inicial, o de impotência... Vergonha por enxergar tudo o que abrimos e mão e a tolice de estar sempre à disposição. Até tentamos pensar que era para ser assim, mas somos invadidos pela perspectiva analítica incansável pelo o que fizemos de errado.
Se eu puder dizer algo a vocês, fiquem em paz. Não fizemos nada de errado. Revelamos o nosso mais íntimo ser para quem tinha medo da profundidade. Mostramos nossos defeitos da forma mais delicada possível para quem acreditava que perfeição existia e se achava irretocável. A dor, por mais insistente que pareça, será um dia sutil. Eu prometo. Saibam que o caos estimula a restabelecimento de prioridades. Só seguiremos fluindo quando direcionarmos os olhares para o rumo certo. Nós cairemos, inevitavelmente. Sem mais, de forma literal, levantaremo-nos mil vezes mais fortes.
É fácil falar pra fazer
Quando não se consegue
Seguir o que é dito
Lindo demais ser exemplo
Quando só enxergam
O que se quer mostrar
O reflexo que era Pra ser guia Vira labirinto pra se perder Quando acredita ter Mostrado o caminho
E é tudo tão extremo, tão raso...
Só que a vida é circunstancial
Um "não" é sempre um "sim" pra outra coisa
Pessimismo é o adiantamento do caos
Enquanto o otimismo demasiado é ilusão
A imperfeição também é bonita
Quando observada por olhares atentos
Dá para esperar o pior sendo a sua melhor versão
Se você for esperto e souber interpretar Saberá que tanta coisa pareceu e não foi Desde as aulas de língua, Basilares para qualquer relação, Ao conflito amoroso Em que não se consegue expressar
Caso alguém te escolha
Como a mente por trás do projeto
Como o corpo por baixo da pele
Faça jus à confiança sendo claro
Só quando alguém se enxergar,
De verdade, em você,
Saberá que já é o que tanto almejou
Não precisa fingir Pra se fazer enxergar Basta agir com o que sente Observar e seguir
Se você se arriscar
E errar o destino
Saiba que não há desvio
Pro que já te espera.
Poderia me esconder por trás da pessoa
Que sei que não veria ser
Mas o que sou, hoje, ninguém mais quer
Mas eu quero e me orgulho.
Coração de pedra até consegue disfarçar
Eu sou mole, preciso me exteriorizar.
Tá tudo bem não tá sempre tudo bem
O comodismo seria ainda mais preocupante.
Tô em paz no improvável,
mas não preciso de armadura
Para entrar no escuro do desconhecido.
O que eu falo é só que sei
E eu não sei nada!
O que eu fiz é o que pude
Deveria dar para fazer mais.
A teimosia é julgada por quem é fraco
Infiel até aos próprios desejos.
Pode até machucar o caminho
Ou partir no final,
mas eu fui.
Dar é errado é perspectiva
Quem é que garante que o seu é melhor?
Pode até me tentar convencer
Mas eu driblo esta arte de encaminhar.
Nem preciso passar
Por cima de tudo
Mas, às vezes,
Escolho em cima para controlar.
E quem pode me dizer que é ruim?
Eu só negocio o amor em leilão...
Quem dá mais?
Não tem energia
Que me faça vender o que é
Ou me distribuir pra tentar ter.
Não preciso olhar para baixo
Para ser feliz
Daqui, na linha do olhar,
Eu reconheço o meu privilégio.
Apanhei tanto da vida
Que é hora de brigar
Contra o mundo.
Foram tantas muralhas
Que fitaram o correr do dia
Admirando a minha maneira
De nunca desistir.
Eu estava lá!
Esperar tem limite
E ninguém fala sobre se apressar
Agora é tudo ou nada
E o nada pode ser que até seja melhor.
O risco é divino
Ele é bom de assistir
Dá para se divertir
Sem se extrapolar.
adaptado em setembro/2021
Grosseria como sinal de desgosto
Nada mais é do que imaturidade
De entender que é necessário abstrair
E quem julga como falso
Quem é dono de si
Com certeza não sabe
Como domar os próprios impulsos
Não é que alguém precise saber Que eu o amo sendo que só quero tá longe É porque a aversão pode ser naturalizada também E, enquanto nenhum limite é ultrapassado, É possível conviver sem se contaminar
Se algum dia já fui quem declara guerra Hoje, estou com a bandeira nas mãos E eu sei que já quis opinar Mas é caro demais escolher um lado Uma perspectiva limitante De que existe verdade absoluta
De cima do muro Também dá para contribuir E, talvez, deixar pra lá Seja a decisão mais sábia
Do tanto que eu desejei Reconheço que preciso de pouco E que esse pouco É sempre tudo o que preciso
As minhas feridas só marcaram... Ainda que presentes como cicatrizes, Jamais definiram o meu rumo.
Todas as máscaras que antes
Eu desprezava
Agora consigo admirar
Como quem se guarda pra si
O maior segredo
O único problema nisso tudo, na verdade É quando alguém se finge para arquitetar Assim, fingindo ser luz quando tá tão perdido, Muita gente se afoga tentando salvar.
adaptado em setembro/2023.
Já recebeu o presente de sonhar com a vontade?
De cogitar hipóteses e sentir na pele como se estivesse lá...
Hoje, as duas metades se decidiram e me vi bem firme ao receber o retorno. Soube que estava dormindo mas nem me atrevi a interromper, na verdade.
Elas acabaram dizendo que a escolha era minha e fiquei feliz por ser o centro daquilo. Ao mesmo tempo, senti-me balançada por ter que ganhar uma coisa ao perder outra.
Por sorte, lembrei que eu estava no controle e mudei o roteiro da mente. Agarrei as duas como se tivesse posse e me orgulhei por ser incapaz de abandonar.
Senti, no momento, a insegurança se posicionando como liberdade.
Também foi corajoso reconhecer o que não queria viver sem.
Consegui ler os pensamentos como se eu mesma os projetasse...
Vi que uma delas nunca se sentiu insegura. Ela era minha e vice-e-versa.
A outra, queria me prender sem se deixar
E se perdeu procurando o que já tinha.
Aceitei o destino com a expectativa de retornar na outra noite
Mas acordei com a sensação de ter que provar antes de definir.
Prometi aos meus sentidos que retornaria
Dei certeza, que outrora, conseguirei me posicionar.