Se você tem medo de sonhar com outro destino e ter que ir sozinho,
Não pense que eu te deixarei seguir sem me levar.
Você é a complexidade que faz mágica a minha vida trivial!
Não há como pensar em uma aventura sem a sua curiosidade criando novos caminhos.
Enxergando você como é, sei que a sua luz abrirá caminho diante da escuridão.
Não importa o tamanho dela.
E qualquer lugar do mundo será seguro, contanto que os seus braços me entrelacem.
A cidade grande esmaga a alma de quem vivia onde não se existia pressa. Todos os andares que sobem indecentes, nos olhares da minha gente, seriam a porta do céu ou uma completa loucura. Quem é que tem coragem de chegar na varanda do 21° andar?
As luzes que brilham à noite, sob o registro intimista, seriam a constatação de que todo dia é festa. Os carros inéditos que sinalizam as conquistas de se perder a vida tentando ganhá-la, nem seriam tão cool para pessoas cujas coisas duram muito. Para pessoas que consertam coisas que estragam.
A cidade grande machuca quem só sabe sorrir. É cada um com a sua loucura. Cada um com os seus medos e as suas risadas politicamente incorretas. São vários mundos paralelos se cruzando na corrida de rato. Tocando-se sem perceberem uns aos outros.
Quanto mais cega pelos faróis, quanto mais surda pelos barulhos me sinto, mais acho que a vida pode ser o máximo se você souber viver do pouco. Mais acredito que o pouco é tudo.
Na cidade grande, as casas são cada vez mais as mesmas: blocos cinzas e brilhantes para vidas cinzas e ofuscadas pelos modismos. As mesmas pessoas estabelecem os mesmos padrões. Quem é diferente é levado a pensar que é menor.
Ninguém se conhece, mas todo mundo partilha a mesma dor no automático. As conversas rasas abrem espaço para os pedidos de socorro nos olhares. Enquanto a previsão do tempo é utilizada para quebrar o silêncio, o tempo passa quebrando as projeções de quem queríamos ser quando crianças. Ser adulto em cidade grande é ser general em guerra sem um exército.
A cidade grande assusta quem nasceu crente de que a lenda era o verdadeiro medo. Quanto "mais grande", mais gente. Tanta gente, junta, não dá um. A cidade grande torna insuficiente as 24 horas do relógio. Torna escasso para a realização dos sonhos um orçamento que é suficientemente justo. Nada nunca é suficiente, na real. A cidade grande torna a vida curta.
O meu amor foi discreto e permaneceu escondido enquanto eu descobria outros ares. No entanto, bastava um respiro de alívio para que a vontade de encontrá-lo invadisse.
Então, em um minuto de silêncio ou de concentração, lá estava. Abstraindo os futuros paralelos de cada realidade apresentada, as frases se formavam espontaneamente.
Contrário ao peso dos meus sentimentos, de tão leves vagavam... eram esquecidas. Relembradas! Modificadas. Eternizadas em suas versões adaptadas.
Como encobrir quem eu era tinha prazo de validade, fui sendo lida ao longo do tempo através dos momentos despretensiosos de conforto. Quanto mais alguém me conhecia por meio das minhas próprias palavras, mais me sentia despida. Invadida.
Afinal, o que são os meus textos se não a minha visão profunda do mundo? O que são as histórias que escrevo se não o meu posicionamento enviesado?
Uma vez de volta, a paixão dominou. Mesmo com o pouco tempo - por menor que fosse a inspiração -qualquer vida acontecendo virou poesia.
Correndo ao encontro do exato, dos cálculos inflexíveis e do destino certo, apenas a presença da arte foi capaz de me retornar para mim mesma. Desde então, somos indissociáveis.
Você espalha cura ou dor?
Se possui um mar de palavras, por que reter as suas ondas quando a praia está deserta de profundidade?
Se o que te encanta é o que importa, por que esconder o seu brilho, sabendo que é dona do seu próprio tesouro?
Você comercializa alívio ou angústia?
Se a sua visão é única, por que se misturar na multidão do senso comum?
Se as suas palavras são o pulso da vida, por que vaguear à sombra do esquecimento, podendo desbravar novos caminhos?
Você anseia por cura ou por veneno?
Se expressar a vastidão dos seus sentimentos traz alívio, por que não tecer com as suas letras um refúgio da correria diária?
Se a paixão é a sua assinatura como escritora, por que não mergulhar na poesia com a mesma dedicação que destina a tudo na vida?
Você ingere cura ou veneno?
Se mede as suas doses com precisão, por que oscilar entre extremos?
Se a entrega é a sua natureza, por que deixar que o medo cale o que o seu coração anseia expressar?
Você fabrica alívio ou angústia?
Se o diálogo é a sua arte, por que limitar sua expressão à penumbra, quando há almas sedentas pela luz de suas palavras?
Se o seu olhar abrange o mundo, por que a sua escrita se confina aos recônditos da mente, havendo tantas histórias para narrar?
Você é a cura ou o veneno?
Se o temor não te imobiliza, por que hesitar em dar o próximo passo?
Se a timidez é um véu, por que não desvendá-la diante do encanto do cotidiano?
Não precisa de destinatário quando as palavras são escritas pelo coração. Ainda que hajam rostos específicos, a experimentação das sensações intrínsecas às paixões é universal.
A mesma mágica que afeta o meu consciente também descontrolaria outrem quando observada. Os dias noturnos que me mudaram por dentro poderiam facilmente despertar arrepios a quem permanecesse acordado.
As minhas frases avulsas contariam uma história na qual também estiveram. Cada sonho que já realizei poderia ser transferido de cenário e todas as companhias poderiam se resumir a uma só. A paixão é um elo invisível e transformador.
Se eu vivo por amor, não preciso lamentar todas as minhas perdas. As lembranças que projeto poderiam ser vistas como realidade inquestionável a depender da motivação individual. Reforço que a alegria é superestimada.
Os meus pensamentos subversivos seriam capazes de espalhar saudades acerca do que não aconteceu. Cada lugar onde fui esconderia o mesmo destino, assim como toda a minha correria seria para chegar mais perto de uma única pessoa, que poderia ser qualquer uma.
São versos de amor
Dentro de um poema
É o seu sorriso sapeca
Estampando a revista
São as frases compartilhadas
E soltas ao vento
É o seu foco te escondendo
Da vista comum
São os pelos que protegem
A sua honra tremenda
É o seu ombro me trazendo
Abrigo discreto
São os seus beijos que mostram
O encontro perfeito
É a cena inocente realizando
O meu sonho
São as suas caras marcadas
Dentro do meu peito
É a palavra que li
E fez todo o sentido.
Não deixe de ser assim
Não perca a sua graça de ser diferente
E transitar entre os extremos
Não abandone o seu brilho
Nem se despeça do seu lado sombrio
Saiba ser faca de dois gumes convenientemente exposta
Não sorria tão fácil
Nem se perca tranquilo de desespero
Transforme as particularidades das suas emoções em arte
Não vá tão longe
Nem se prenda tanto assim ao ninho por medo do novo
Descubra os lugares onde ninguém quer ir e aproveite
Não caminhe sozinho
Nem tão clandestino a ponto de não ficar em ninguém
Seja inesquecível, sobretudo para quem só precisa de algo para esquecer.
Eu já sou de alguém
Mas posso visitar outro mundo
E nem sei porque a mágica
Precisa prometer eternidade.
Eu já tenho alguém
Mas ainda não sei tudo
E duvido que haja
Alguém que já saiba tanto.
Eu me sinto em alguém
Mas também sinto muito
E acredito que tenha
Mais coisas depois do depois.
Eu já quis ser (de) alguém
Mas também fugi junto
E deixei de tentar
O que era só meu.
Eu estou em alguém
Mas também sou em mim
E desejo que estando
Ao menos na mente eu permaneça.