A gente se aprisiona tanto às expectativas que, vez ou outra,
A gente sente saudade, em partida ou em vida, de gente que nem existiu
Quando a gente se recusa a enxergar o que tá na frente
Não consegue perceber o que falta
E que, consciente, é possível alcançar
Se a gente colocasse cada gente na estante certa
Talvez a ordem das coisas fizesse um pouco mais de sentido
Uma rigidez que me lembra a morte
Passando pelos meus dedos
Há quem diga que o perfume relembre certo requinte
Sob o meu nariz, mais parecia cheiro de casa empoeirada
Uma vida de passagem e ninguém para acomodar
A bondade era caminho para fazer o mau Sem fingir que está com pesar Não demora muito até Que alguém perceba aqueles olhos de vidro Em terra em que todo mundo fixa os olhares para enxergar a alma
Ainda assim, não foi o suficiente para impedir Parece que o peso arrasta gente leve demais para longe
No entanto, não tem jeito Quando o toque retoca a gente percebe o há Mesmo sem ir, eu estava Ele voltou pra depois confessar
Um sorriso seguro mesmo estando perdido
Parecia que sabia o que tinha esquecido
Ele entendia tudo, mesmo sem conseguir se explicar
Até parece que ele precisaria mostrar algo, afinal
Dava pra ver no olhar que dominava
Conquistou tudo o que sonhou
E foi a razão pela qual muita gente sonhou em sonhar
Realizou muitos atos, esteve presente onde deveria estar
Foi instrumento dos justos, dos contraditórios e dos meros mortais.
Viveu em paz consigo mesmo
E soube, em vida, se fazer enxergar
Deixou muito do esforço, do legado, da vontade de não mais deixar
Permitiu por amor e quis acompanhar
Homem raro, de fibra Injustiçado por fora Crente da jornada onde pulsa
A jornada se foi e pareceu tão injusto Mas é justo dizer que foi o suficiente Seu amor já marcou até quem não o sentiu
Corpo casa
Porta aberta
Liberdade para entrar ou sair
Propriedade o suficiente para deixar machucar
Colocar uma plaquinha de “bem-vindo”
Ao mesmo tempo em que sinaliza a saída com luz
Deixar a escuridão abraçar
Mas também se revelar às claras
Corpo casa
Mente aberta
Liberdade para ir e voltar
Propriedade o bastante para poder se doar
Se pintar, se limpar e sujar
Marcar quando marca
Tirar o que incomoda
Fazer com a visita de surpreenda
Mas também não receber sempre
Eu sou analógica, dos livros
Ele respira tecnologia
Vinte e quatro horas por dia
Eu sou uma águia
De ataques certeiros
Depois de análises milimétricas.
Ele, por sua vez, é pássaro explorador, impulsivo
Ronda tudo por uma boa vista sem pensar nos riscos
Eu sou das linhas retas, lineares
Ele consegue enxergar arte nas curvas e nas bagunças pontuais
Eu sou executora, resolutiva
Ele é a mente por trás de tudo.
Ele é genial, criativo Pioneiro de ideais únicas Eu sou incansável, insistente Movida pelo desafio da possibilidade
Ele desmonta todas as coisas desde a infância
Eu sou a que sempre se dispôs a juntar os caquinhos
E limpar varias bagunças por aí
Eu amo o mato, o verde
Ele se recarrega nas águas, no mar
Eu sou purista, planejadora.
Qualquer céu me faz feliz.
Ele prefere deixar a vida levar
E questiona tudo.
Ele divide as playlists por ano
E vira e mexe se antena em uma música do momento
Eu ouço os mesmos clássicos desde 2009
E consigo mudar o sentido das melodias embasada no estado de espírito
Eu tomo banho no escuro
E me conheço sob os holofotes
Ele relaxa às claras
E se solta em público
Ele é desbravador, curioso
Eu sou curiosa de certa forma,
mas pragmática.
Ele acha que vale a pena o risco de ser ruim pra conhecer
Eu prefiro terrenos seguros e perco experiências por isso
Eu sou franca, transparente
Ele é fluorescente, brilhante!
Tem uma luz tão forte que às vezes cega o próprio caminho.
Ele domina tudo com o que se depara
Eu seleciono o que vale o espaço no meu HD mental limitado
Eu o enxerguei de cara
Foi como se tivesse uma estrela na testa e uma seta só pra garantir
Ele me reconhecia mas tinha medo…
Demorou até, de fato, se acomodar.
Ainda assim, diariamente a gente se esbarra e descobre algo em comum...
Somos reservados e em paz
Com as nossas escolhas
Nenhum segredo nos aprisionaria dentro da casa que compartilhamos.
Naturalmente, a gente se expressa com perspectivas diferentes…
Os carácteres são a matéria da maneira como nos revelamos:
Ele através dos códigos
Eu através da palavras
É engraçado como, olhando pra trás, Percebo como sempre dividimos o mesmo destino em caminhos distintos… A nossa ideia de lar, família, felicidade e sustento de imediato se encaixaram com perfeição.
Somos dois extrovertidos vivendo em dupla a nossa introspecção.
Dois extremos entre silêncios e conversas atravessadas durante a rotina tão exaustiva.
Com isso, eu sou uma desesperada por tudo,
Dos carinhos aos problemas.
Ele consegue ser firmeza na calma…
Transforma qualquer preocupação em soluções inéditas
Somos o complemento de desejos inegociáveis
Um roteiro cujo futuro valoriza
Cada história do passado.
Enquanto ele sonha com as naves espaciais, eu sou a viajante do tempo.
Fazemos parte da mesma equipe e somos responsáveis por manter a ponte.
Ademais, já que os nossos mundos se fundiram
Que a gente seja sempre capaz de moldar os universos diante de cada realidade
Desde o início, ele jamais falou um “se” porque sempre foi “quando”, ainda que eu acreditasse que poderia ser “nunca”.
Ele é infinitamente persistente e foi isso que nos trouxe até aqui.
Eu sou espirituosa e só tinha fé.
Deus foi o elo que uniu.
Enquanto cuida das flores
O seu sorriso gentil também rega o meu jardim
Seria natural que uma pessoa Que precisa do sol para demonstrar resultado Se sentisse frustrada quando o dia está cinza... Mas ele não!
Independente da cor do céu, O seu sorriso branco, radiante, Sempre está no canto, ansioso pra se abrir
Talvez seja por isso que as plantas
Permanecem vivas em qualquer estação do ano
Elas se alimentam da gentileza que as cultiva
E a gente é tão dependente do resto Que se envergonha por esquecer Que as mãos na terra, a origem, podem curar
Parando agora para analisar
Talvez ele só seja alguém sem dor
Não pela ausência de dificuldades
Mas pela escolha de olhar para o que a(colhe)
E lá, com a mangueira jorrando Enquanto hidrata o verde Ele também brilha ao fazer Com que a beleza não se limita à natureza
A sua alegria é linda
E simplicidade com a qual trabalha inspira
Às vezes, um afazer faz
Com que os nossos caminhos se cruzem
E eu sempre saio um pouco melhor depois de encontrá-lo semeando.
O auge de quem é arte por dentro
Independente da demonstração em palavras…
Faz o toque parecer mais firme
E um carinho sutil me transpassar
Me embala num ritmo - frenético -
Enquanto me aconchega num mantra sereno
Me permite viver tudo na mente
E experimentar todas as sensações como verdade indissociável
Revela um mundo que sempre soube ser meu
E me torna testemunha para poder recrutar
Desperta meus medos, meus anseios, minha paz
Me inspira, naturalmente, como se criar fosse hábito
Me torna protagonista na tranquilidade de não aparecer
Faz com que eu saiba a hora de brilhar
Me ilumina enquanto me encontro no escuro
Me revela no claro sem qualquer vergonha
Faz com que eu queira sempre voltar
Ignora o fato de eu não escolher partir
A única cura pro que me foi dado
A melhor lente para conseguir enxergar.
A sua delicadeza é linda de ver
E não seria diferente agora que é hora
Em algum lugar sei que chegaria aí
Independente do caminho que tenha pegado
Sua ternura acalmará o pranto E a sorte, em breve, será atrelada grata ao seu nome Seu jeito de achar que tá bom Te fará crescer ainda mais E verá que nasceu pra acolher
O seu toque, bem grave, que marca Será o som, bem sutil, que acalma E a sua voz, ternura melódica, baixinha Chamará com receio a menina Que se tranquilizará ao ver que tá chegando Enquanto sente a verdade que mando daqui
Sua felicidade me invade e é sutil A linha do tempo, mais uma vez, volta e repassa Nada muda o que foi O que guiou em duas partes O que encontrou e dividiu Foi real para querer o bem mesmo sem E é bom quando é bilateral Afinal, o caminho sempre leva lá.